sexta-feira, 19 de setembro de 2008

O despachante da morte - parte 2

Gil não podia acreditar no que aquela voz dentro da cabeça dele falava.

Outro serviço? Como assim? Já não bastava uma morte? Uma encomenda?

Mas a voz continuou com seu tom elétrico monocórdio, quase que como uma interferência ou linha cruzada de telefone:

-Anota aí. O novo endereço é um shopping. Fica na Vila Marina. Sabe aquele shopping novo? Chama-se Maison Pallace. Você vai até este shopping, ainda hoje. Assim que acabar o expediente. Chegando lá eu te digo o que fazer. Até lá.

A morte pareceu desligar. O ruído no ouvido dele diminuiu. Gil bebeu o café já frio em sua mão e fez uma cara de nojo. Ele detestava café frio.

Voltou para sua baia como se nada tivesse acontecido. Tornou a verificar os documentos e carimbá-los para expedição. Um ruído lhe chamou a atenção. As pessoas do seu departamento faziam a tradicional entrega de presentes. O amigo oculto. Gil se aproximou e apenas observou, como fazia todos os anos. Desde sempre que ele nunca era convidado para participar do amigo oculto. Talvez por ele ser oculto em sua existência triste. Talvez por ele não ter amigos. Ele via as pessoas felizes se abraçando. Eram presentes simples. Canetas, agendas, cds, perfumes. As pessoas em total congraçamento.

Luciana chegou com o presente para Cláudio. Ele abre o presente da menina. Os dois se abraçam. Gil nota que o abraço dos dois demora mais que o normal. Nota que Cláudio dá um beijo discreto no pescoço de Luciana.


Gil só consegue pensar em três palavras: “Filhos da Puta!”

Está claro para Gil que os dois estão de caso. Pode parecer discreto para os demais, mas ele percebeu. Ele sabe. Logo quem, Luciana. Sua musa… Gil fica ainda mais triste, sente-se traído.

Olhou as horas. Faltavam ainda cinco minutos para as cinco da tarde.

Gil foi ao banheiro. Trancou-se no sanitário e pegou a arma do bolso. Ali estava ela. Pesada e fria. Seu presente do amigo oculto. Seu amigo oculto era a morte. Aquele era o instrumento da morte. Ao menos alguém, ou alguma coisa, em algum lugar, gostava dele. Gil destravou e olhou para o pente. Contou cada uma das balas. Tornou a encaixar o pente no cabo da arma. sentiu o cheiro da pólvora do último disparo. Lembrou da cena e sorriu. Guardou-a com cuidado no bolso do paletó.

Saiu do banheiro com seu passinho de urubú cansado. Já eram cinco horas. Ele desceu as escadas em silêncio e tomou seu café no “Seu Mineiro”.

Pegou um taxi na porta da cafeteria.

-Pra onde patrão? Perguntou o taxista bigodudo.

-Vila Marina.

-Sim senhor.

Continua aqui

Parte 3

Parte 4

Obrigada ao Philipe que autorizou a publicação do texto no meu blog =)

Um beijo e um queijo para vocês.

3 comentários:

Gabriel Saboia disse...

bela solução. E que volte o seu cotidiano, que é o que nós, seus leitores, queremos saber de verdade. Se cuida meu bombom.
+)

Anônimo disse...

Gilberto 'Gil' tem que ir preso. Agora, pq a morte tem que ter sotaque carioca. Morte pra mim seria alguém falar: "Seinhor Fernânnnndo" hahahaha

Unknown disse...

Sacangem postar só um pedacinho hein!!...essa é daquelas q a gente nao consegue parar de ler!!...rsrs...mais!! mais!! mais!!!!!!!...otima, muito boa!!