sexta-feira, 19 de setembro de 2008

O despachante da morte - parte 2

Gil não podia acreditar no que aquela voz dentro da cabeça dele falava.

Outro serviço? Como assim? Já não bastava uma morte? Uma encomenda?

Mas a voz continuou com seu tom elétrico monocórdio, quase que como uma interferência ou linha cruzada de telefone:

-Anota aí. O novo endereço é um shopping. Fica na Vila Marina. Sabe aquele shopping novo? Chama-se Maison Pallace. Você vai até este shopping, ainda hoje. Assim que acabar o expediente. Chegando lá eu te digo o que fazer. Até lá.

A morte pareceu desligar. O ruído no ouvido dele diminuiu. Gil bebeu o café já frio em sua mão e fez uma cara de nojo. Ele detestava café frio.

Voltou para sua baia como se nada tivesse acontecido. Tornou a verificar os documentos e carimbá-los para expedição. Um ruído lhe chamou a atenção. As pessoas do seu departamento faziam a tradicional entrega de presentes. O amigo oculto. Gil se aproximou e apenas observou, como fazia todos os anos. Desde sempre que ele nunca era convidado para participar do amigo oculto. Talvez por ele ser oculto em sua existência triste. Talvez por ele não ter amigos. Ele via as pessoas felizes se abraçando. Eram presentes simples. Canetas, agendas, cds, perfumes. As pessoas em total congraçamento.

Luciana chegou com o presente para Cláudio. Ele abre o presente da menina. Os dois se abraçam. Gil nota que o abraço dos dois demora mais que o normal. Nota que Cláudio dá um beijo discreto no pescoço de Luciana.


Gil só consegue pensar em três palavras: “Filhos da Puta!”

Está claro para Gil que os dois estão de caso. Pode parecer discreto para os demais, mas ele percebeu. Ele sabe. Logo quem, Luciana. Sua musa… Gil fica ainda mais triste, sente-se traído.

Olhou as horas. Faltavam ainda cinco minutos para as cinco da tarde.

Gil foi ao banheiro. Trancou-se no sanitário e pegou a arma do bolso. Ali estava ela. Pesada e fria. Seu presente do amigo oculto. Seu amigo oculto era a morte. Aquele era o instrumento da morte. Ao menos alguém, ou alguma coisa, em algum lugar, gostava dele. Gil destravou e olhou para o pente. Contou cada uma das balas. Tornou a encaixar o pente no cabo da arma. sentiu o cheiro da pólvora do último disparo. Lembrou da cena e sorriu. Guardou-a com cuidado no bolso do paletó.

Saiu do banheiro com seu passinho de urubú cansado. Já eram cinco horas. Ele desceu as escadas em silêncio e tomou seu café no “Seu Mineiro”.

Pegou um taxi na porta da cafeteria.

-Pra onde patrão? Perguntou o taxista bigodudo.

-Vila Marina.

-Sim senhor.

Continua aqui

Parte 3

Parte 4

Obrigada ao Philipe que autorizou a publicação do texto no meu blog =)

Um beijo e um queijo para vocês.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

O despachante da morte - parte 1

Ele chamava Gilberto, mas todo mundo só chamava aquele cara de Gil. Gil tinha 47 anos e trabalhava numa repartição anexa ao tribunal de contas. Seu trabalho era conferir seis assinaturas por contrato, verificar cada página em busca de erros e por fim, desferir seis carimbadas diferentes e encaminhar para o setor seguinte, o do Carvalho, que então preparará os contratos para o setor de arquivamento.

Era isso e nada mais. Por 23 anos, 48 dias e 18 horas ele apenas verificou, corrigiu, carimbou e encaminhou.

Gil tinha o que nós todos consideraríamos uma vida meio medíocre. Ele viveu com a mãe dele, uma velha doente até que ela morreu caindo no chuveiro e acertando a cabeça no vaso sanitário. Desde então, ele passou a ser sozinho naquela casa velha e escura. Suas namoradas eram as mulheres das paginas centrais de revistas masculinas e seu passatempo era ler. Ele gostava especialmente de ler sobre fungos e esporos raros. E seu divertimento de final de semana se resumia a um interessante passatempo: O radioamadorismo.

Entretanto, Gil não falava no radio. Apenas ouvia. Ele passava horas e horas sintonizando e varrendo as faixas em busca de conversas.

Eventualmente, ele saía de sua baia e caminhava pelo corredor que fedia a cigarro. No caminho até a cafeteira no fim do corredor, ele ia olhando aqueles cartazes feios colados nas paredes. Aqueles pedaços de fitas adesivas amareladas com bolinhas de poeiras ecrostadas ao longo de anos, aquela velha lixeira encardida que testemunhou tantos e tantos funcionários públicos passando ali desde a era Vargas.

Ao chegar na cafeteira viu que o Carvalho e o Sérgio Bastos do segundo andar discutiam futebol. Gil se aproximou em silêncio e ficou ali, com aquela cara sorridente, balançando a cabeça em sinal positivo, doido para ser enturmado no assunto. Mas ninguém lhe dava a menor pelota. Gilberto não sabia, mas seu apelido na repartição era “homem adstringente”, porque bastava ele chegar, os grupinhos se dissolviam imediatamente e cada um voltava a sua monótona rotina de torturas aos quais alguém muito cínico, deu o nome de trabalho.

Sem amigos, sem colegas e sem parentes conhecidos, Gil terminava seu dia sempre da mesma forma. Tomava um café na cafeteria do outro lado da rua. Pegava os trocados e caminhava a passos lentos para o ponto do ônibus, onde esperava por vários minutos até vir um mais vazio que o levasse para casa.

Gil era tão solitário que um dia teve a sensação que não se lembrava a última vez que havia falado com alguém. Suas únicas palavras trocadas em muitos dias eram com o “Seu Mineiro”, um paraíba que lhe atendia na cafeteria. Mas há muito, Seu Mineiro sabia de cor e salteado o que Gil iria pedir e tão logo avistava a figura baixa com o guarda-chuva sob o braço se encaminhando pra lá, já se adiantava, providenciava o expresso de sempre. Gil era ignorado até mesmo pelo cara do cafezinho.

Gil tinha um segredo.

Ele amava platônicamente a Luciana.

Luciana é uma moça bonita de vinte e poucos anos. Eu chutaria uns vinte e nove. Mas ela, interrogada, diria uns vinte e cinco com a maior das desfaçatezes femininas.

Luciana atende os telefones e repassa as chamadas para o setores. Gerencia a agenda e recepciona os boys que vem trazer documentos do prédio anexo.

Talvez isso explique porque Gil toma tanto café. Porque para beber seu café em silêncio, ele passa pela mesa da Luciana, onde tem por uma fração de segundo, a oportunidade de sentir o cheiro daquele perfume que emana dos cabelos ainda molhados da moça. Gil sabe que ela é solteira, mas nunca teve coragem de se declarar.

Um dia, Gil vinha andando pela rua quando um zumbido fraco começou a incomodá-lo. Inicialmente, ele pensou que aquele zumbido era resultado da enorme zueira que era o trânsito da cidade. Motores, caminhões e ônibus. Buzinas e camelôs se esguelando na orelha dos transeuntes.

Sentou para trabalhar como sempre e esperou que o zumbido passasse espontâneamente. Mas não passou.

Durante todo aquele dia, Gil escutou o que parecia ser uma tevê fora de sintonia em seu ouvido. Foi assim quando carimbou e verificou doze contratos e continuou quando Gil tomou seu cafezinho e pegou o ônibus.

Em casa, no silêncio sepulcral daquele apartamento de dois quartos com vista para uma obra abandonada, o som parecia ainda mais alto. Gil estava definitivamente preocupado. O pior é que sem parentes nem amigos, ele não sabia com quem desabafar suas angústias. Durante a noite o som do chiado no ouvido ficou cada vez pior e ele resolveu procurar um médico. Mas gil há muito não tinha mais telefone. Ninguém ligava pra ele mesmo, além do fato de que Gil era um sovina, o levaram a cancelar a assinatura do telefone.

Gil anotou na lista telefônica o telefone de uma clínica 24 horas e otorrinolaringologia. Desceu e foi até o orelhão da esquina. Discou e quando uma moça atendeu, ele ficou sem jeito. Desligou. Se sentiu um idiota. Tanto tempo sem falar com as pessoas o transformaram em um completo abobado. Pensou em voltar para casa. Mas o zumbido continuava.

Pegou novamente o telefone e ligou outra vez. A moça atendeu e ele perguntou o convênio deles. A clínica tinha o convênio dele e estava aberta. A moça ensinou como chegar lá e Gil partiu para a clínica.

Chegando lá, ele se identificou, preencheu a ficha e ficou na sala de espera, lendo uma antiga revista Manchete. Minutos depois, um velhinho de branco surgiu e mandou Gil entrar.

O velho era o Dr. Olavo. Um médico experiente e dono da clinica. O Dr. Olavo examinou os ouvidos de Gil e a despeito de dois bolões de cera de ouvido, nada havia ali que expolicasse o estranho barulho.

Gil comentou com Dr. Olavo que o ruído surgira do nada. Inicialmente bem fraquinho, mas que aumentou consideravelmente durante a noite. O médico parecia intrigado.

-Senhor Gilberto, já vi pacientes queixando-se disso outras vezes, mas tudo levava a crer que era síndrome do pânico. Ou algum tipo de histeria. O que eu recomendo é que o senhor procure um psicoterapeuta e realize alguns exames neurológicos, porque isso pode ser causado também por alguma disfunção cerebral na região que controla a audição.

Gil saiu de lá com uma receita e dois telefones. Mas o ruído ainda estava lá. Voltou para casa e custou a dormir.

No dia seguinte, tudo se repetiu com a precisão de um relógio suíço. Ele acordou na hora de sempre. Tomou café na paradria em frente e foi para a repartição. Carimbou, leu, examinou. Carimbou novamete, preencheu, carimbou, examinou. Levantou, foi tomar café. Passou com o olhar comprido para Luciana, tomou o café, voltou, novamente o olhar comprido. Novamente leu, examinou, carimbou.

Na hora do almoço, Gil quase teve um colapso. Luciana apareceu na baia dele e o convidou para almoçar. Por alguns segundos tudo pareceu rodar. Mas foi aí que ele lembrou que o almoço era a confraternização de aniversário do Carlos Augusto, chefe do setor de documentação. Chefe dele.

Gilberto prontamente afirmou que iria sim. Luciana se virou e saiu, deixando aquele perfume de shampoo na baia de Gil.

Na hora do almoço, Gil chegou no restaurante combinado e não havia chegado ainda quase ninguém. Sentou-se no final daquela enorme mesa. Dali a pouco começaram a chegar os seus colegas de trabalho. Um a um, foram sentando-se na ponta oposta da mesa.

Gil começou a perceber que ninguém queria sentar perto dele, mas disfarçou o quanto pôde, brincando de montar um jogo da velha com os pedacinhos de palitos de dente.

Mais e mais gente chegou e por mais ridículo que pareça, ninguém sentou do lado dele. Ao invés disso, colocaram outras duas mesas na ponta oposta. Porém ainda mais gente chegou e não cabia nenhuma outra mesa na ponta oposta a que Gil estava.

E foi aí que aconteceu a cena mais grotesca. Cristiane, a chefe de um departamento preferiu sentar-se numa mesa anexa a grande mesa da repartição a sentar-se perto do Gil. Todos perceberam, mas preferiram fingir que não notaram e alguns até mesmo preferiram mentir para si mesmos que aquela situação havia sido causada pelo forte ar condicionado sobre a área que Gil estava. Mas ele, em seu íntimo, enquanto jogava sozinho o jogo da velha com seus palitos, sabia que ninguém gostava dele.

No fim do dia, tomou o café em completo silêncio. Pegou o ônibus e foi para casa.

No caminho, sentado olhando pela janela do ônibus, Gil tinha os pensamentos perdidos como todos os demais. Foi lembrando da cena no restaurante e no modo como todos os grupinhos paravam de falar imediatamente quando ele se aproximava. E foi neste momento que o barulho no ouvido mudou. Aconteceu um estalinho. Gil se assustou. O ruído pareceu aumentar um pouco, logo depois diminuiu e por mais bizarro que isso pareça, Gil ouviu uma voz.

-Está ouvindo? - Era uma voz de homem. O sotaque lembrava o sotaque carioca. O som da voz era metalizado. meio fora de sintonia. Parecia mesmo com aquelas conversas que ele tinha mania de escutar no radio-amador. Gil ficou petrificado. Olhou para o lado para se certificar que não era o cara ao seu lado falando no seu ouvido, mas ali só estava uma velha e ela fazia palavras cruzadas. A voz tornou a falar.

-Está ouvindo Gilberto? Balança a sua cabeça aí pra eu saber que você está ouvindo.

Gil balançou positivamente a cabeça. E a voz continuou.

-Ah… Bom. Gilberto, você não sabe quem está falando, não é?

-Não. - Disse ele olhando para cima. A velha olhou pra ele com uma cara estranha de quem não quer palpites nas palavras cruzadas.

-Gilberto, você não faz idéia de quem está falando com você. Eu sei.

-Deus? É você Deus? -Disse Gil em tom mais alto olhando para o teto. A velha se levantou com cara de medo. Puxou a cordinha e desceu.

-Não, Gilberto. Não sou Deus. Não fale comigo. Eu falo com você. Apenas balance a cabeça. Ouviu?

Gil balançou a cabeça positivamente.

-Desça do ônibus. -Ordenou a voz.

Gil prontamente atendeu. Ele desceu do transporte coletivo e estava em frente a uma praça. A voz surgiu novamente.

-Gilberto… Eu sou a morte.

Gil se assustou. Olhava para todas as direções.

-Acalme-se. Não adianta me procurar. Eu estou num lugar que você não pode ver. Mas você pode me ouvir. E eu preciso de você. Entendeu?

Gil balançou a cabeça afirmativamente.

-Você não vai falar pra ninguém que estamos tendo esta conversa. Se falar, as pessoas vao dizer que você ficou maluco. Mas você sabe que não ficou não é Gil? Você não é maluco, não é mesmo?

-É. Não sou maluco! -Disse ele.

Dois homens que passavam olharam pra ele e riram.

-Eu disse para não responder. Apenas balance a cabeça. -Tornou a dizer a voz.

Gil balançou a cabeça afirmativamente.

-Gil, eu quero que você vá até o endereço que eu vou ditar. Pegue um lápis e papel na sua pasta pra anotar.

Gil prontamente atendeu. A estranha voz ditou-lhe um endereço: Rua das Camélias 44, apartamento 301.

-Vá até este endereço. Chegando lá você vai tocar a campaínha. Quando a pessoa abrir a porta, você vai dar um tiro nela.

Gil ficou estarrecido. Como assim dar um tiro em alguém que ele nem conhece? Aliás, como assim dar um tiro se ele nem tem arma?

Gil queria gritar. Mandar a voz sair da cabeça dele. Percebendo isso, a voz falou em tom grave e ameaçador:

-Não brinque com o que não conhece, Gilberto! Eu levei a sua mãe. Eu controlo a vida das pessoas. Eu permito que elas vivam e defino o momento delas partirem. Não se ache maior que a morte. Você é apenas um humano e nada mais. Portanto, obedeça.

Gil estava parado. Pensando. Não sabia como arrumar um revólver. A voz tornou a falar.

-Não se preocupe com o revólver agora. Você vai dar este tiro só amanhã. Na hora do almoço você vai comprar esta arma. Eu quero uma pistola 9mm. Você sabe onde comprar isso?

Gil balançou a cabeça em sinal negativo.

-Você vai subir o morro da minhoca. Lá em cima tem uma boca de fumo. Chega lá e diz que quer comprar um “ferro”. Vai te custar mil e quinhentas pratas. Leve em dinheiro. Traficantes não aceitam cartão de crédito. Compreendeu?

Gil balançou a cabeça afirmativamente.

A voz sumiu. O ruído também. Foi tão súbito que ele começou a pensar se não havia sido algum tipo de delírio. Gil estava meio tonto. Era um alívio absurdo livrar-se daquele ruído insuportável. Caminhou dois quarteirões até chegar em casa. Deitou na cama de roupa e tudo e dormiu pesado.

Acordou com o barulho da obra. Olhou no relógio e já havia passado mais de duas horas da hora dele ir para o trabalho. Em mais de dez anos aquela era a única vez que chegaria atrasado ao trabalho. Saiu desesperado.

Chegou na repartição e todos olharam pra ele em silêncio. Gil ficou sem graça. Sentou-se e começou a carimbar os contratos como fazia sempre. Mas foi aí que o zumbido voltou. Ante ao zumbido, Gil sentiu uma forte tremedeira de medo. E logo que surgiu o zumbido, a voz da morte falou com ele.

-Gil? Tá ouvindo?

Gil balançou a cabeça positivamente.

-Bom dia.Estou aqui para não deixar você esquecer do trabalho de hoje. Daqui a pouco vai dar meio dia. Pegue o dinheiro no banco e compre o “ferro” na boca de fumo.

Gil balançou a cabeça positivamente outra vez. A voz sumiu e o ruído também.

Ele não conseguiu examinar nenhum contrato. Nem carimbar. Apenas fitava os papéis. Gil estava olhando para dentro. Estava tenso. Fazia cenários mentais. Ele subindo o morro. Dando o tiro em alguém. Uma coisa absurda. Por outro lado, como negar a morte algo assim? E aquele estranho barulho dentro da cabeça dele? Enquanto pensava olhava o relógio empoeirado na parede. Olhava o sutil movimento do ponteiro dos minutos.

Quando o ponteiro chegou ao meio dia, Gil levantou-se pegou o paletó e saiu em direção ao banco. Sacou dois mil reais na boca do caixa. Enfiou os maços de dinheiro no bolso do paletó e partiu na direção do morro.

Chegou lá em baixo, viu um moto taxi. Ele fez sinal e o cara veio.

-Pois não? - Perguntou o motoqueiro.

-Amigão… Eu queria. (sussurra) comprar um ferro.

-Um ferro?

-É. Um ferro. Uma automática. 9mm.

-Isso é na boca do Joca.

-Tu me leva?

-Vinte pratas.

-Toma. -Disse Gil tirando uma nota de cinqüenta do bolo.

Subiu na moto, colocou o capacete fedorento que o cara do taxi lhe deu e eles saíram na direção do alto do morro. A moto foi cortado ruas cada vez mais estreitas e sujas. Até chegar num beco. Nas paredes, símbolos do comando.

O mototaxi apontou uma casa pintada de verde no fim do beco. No alto da casa, um garoto de uns 12 anos estava empunhando um fuzil tático. Um AR15 eu acho.

Gil desceu do taxi e foi entrando lentamente. O moleque apontou-lhe o fuzil.

-Qual é???? Qual é???? Berrou lá do alto das telhas Brasilit.

Gil levantou o maço de notas.

O moleque abaixou a arma e batucou uma combinação quase musical nas telhas. A porta da casa verde se abriu e um cara barbudo enorme com cabelo rastafari abriu a porta.

-Salve!-Disse o cara.-Chega mais tio.

Gil se aproximou e mostrando o maço de notas, disse que queria comprar um ferro.

-Mas que tipo? 38? 22? 765?

-Uma 9mm automática. Disse Gil.

O cara olhou na cara dele. Apontou um sofá todo ferrado no fundo da sala. Gil foi até ele e sentou-se.

O cara caminhou até a mesa onde havia um bolo de saquinhos de cocaína. Abriu um espalhou na mesa e cheirou uma carreira de pó.

-Aí tio. Tá servido? - Perguntou o traficante.

-Não não. Só quero o ferro mesmo.

-Pra? -Indagou o traficante limpando a coca da barba.

-…Defesa pessoal. Disse ele.

O traficante riu.

-Pode crer. As ruas tão um perigo mesmo. Até eu quase já fui assaltado outro dia. Tem que meter bala mesmo, tio. Rato bom é rato morto. Então, tipo… É o seguinte. Guenta aí que eu vou buscar teu ferro. Beleza?

Gil sorriu positivamente.

O traficante gritou um tal de “neca”. Um gordão de chinelo de dedo surgiu da cozinha. Sentou-se na cadeirinha antiquada dos anos 50 começou a contar trouxinhas.

Gil ficou ali imaginando a situação bizarra no qual se metera. Dali a uns seis minutos, surgiu o chefe da boca com a arma na mão. Entregou ao Gil. A numeração estava raspada.

-Mil seiscentos e cinqüenta. -Disse ele.

Gil pegou mil novescentos e cinqüenta e entregou ao cara.

Valeu tio. Aí, não quer uma trouxinha de brinde não?

-Não, não. Obrigado.

-Ah, mas o senhor não vai descer a pé não. “Calmaí”.

O cara colocou a cabeça pra fora e berrou por um nome estranho que eu não tenho certeza, mas acho que era chibíu.

Surgiu um molecote de uns 15 anos. O Joca, o chefe da boca, ordenou a chibíu dar carona para o Gil até o asfalto.

Gil subiu na motoquinha do moleque e desceram o morro.

Quando chegou lá e baixo,Gil viu que já estava na hora de voltar ao trabalho. Despediu-se do tal chibíu e voltou para a sala dele. Gil carimbou tranquilamente os documentos como sempre fez. Só começou a ficar apreensivo quando notou que o relógio se aproximava das 17h.

Quando o expediente finalmente terminou, Gil enfiou o paletó. Ali estava a arma e mais uma mão cheia de balas.

No outro bolso, um papel com o endereço.

Gil saiu da repartição. Foi até a cafeteria onde seu café expresso de sempre o esperava no balcão. Tomou apressado. Pagou e saiu.

Pegou um taxi até o bairro da Nossa Senhora das Mercês. Desceu em frente a delegacia e caminhou apressado por umas seis ruas até chegar na rua das Camélias. Ali, sentindo um calafrio cada vez mais forte a lhe subir pelas costas, foi olhando um a um os prédios antigos. Quando finalmente encontrou o 44 da rua das Camélias, sentiu que estava ante uma bifurcação do seu destino.

Pensou em desistir.

A voz surgiu do nada.

-Gil. É aqui. Vá até o interfone e toque no 605. Ali tem uma velha que não escuta bem e sempre abre o portão sem perguntar. Toca lá.

Gil tocou. Nada.

Tocou novamente. Então o portão abriu. Gil entrou.

O numero 44 da rua das Camélias era um edifício antigo, com portas escuras e uma escadinha estreita coberta de lajotas vermelhas. Subiu lentamente. Degrau a degrau. No ouvido o chiado permanente.

-É aquele do fundo. 301 -Dizia a morte. -Pega a sua arma. Coloca as balas no pente. Agora destrava. Pronto. Presta atenção. Você vai tocar uma única vez. A pessoa que vai morrer irá perguntar quem é. Você diz que tem uma encomenda pra entregar. Ele vai atender a porta. Assim que ela abrir, mira na cara da pessoa e puxe o gatilho. Não hesite. Não quero erros. Abriu a portam você atira. Enfia a arma no bolso. Depois você vai sair correndo. No outro quarteirão tem um metrô. Pegue o metrô e desça na estação Nossa Senhora Das Dores. Ouviu?

Gil balançou a cabeça positivamente.

-Então vai lá. Agora!

Gilberto avançou com a arma na mão. Tocou a campaínha.

Seu coração batia como se tivesse um baterista de trash metal ali.

Gil ouviu os passos vindo na direção da porta.

-Quem é? - Uma voz de homem perguntou.

-Tem… Tem uma… Uma enco-encomenda pro senhor. -Disse Gil segurando a arma dentro do paletó.

Então o ferrolho foi destrancado. A chave girou lentamente no tambor e um homem magro com cigarro na boca abriu a porta.

Gil levantou a arma na cara dele e deu um único tiro que lhe estourou a parte de trás da cabeça. O corpo do cara caiu no chão se sacudindo em espasmos horríveis. O eco foi forte e Gil pôde ouvir barulho de gente abrindo as portas nos andares de cima.

Gil enfiou a arma no paletó e saiu correndo pelas escadas. Chegou na rua e correu na direção do metrô.

Já no metrô ele pode respirar novamente.

Comprou um bilhete e só então viu que estava respingado de sangue e fedendo a pólvora.

Fez exatamente como a morte havia lhe dito. Desceu na estação Nossa Senhora das Dores. Ali a morte falou com ele.

- Muito Bem, Gil. perfeito. Agora pode ir pra casa. Tome um banho e coloque este paletó para lavar.

Gil obedeceu robóticamente as ordens da morte. Foi para casa. Estranhamente, ele não sentia nenhum remorso ou tristeza. Na verdade, Gil sentia uma certa euforia, uma certa emoção. Dormiu bem naquela noite.

No dia seguinte, antes de ir para o trabalho, comprou o jornal. Olhando nas colunas policiais, ele descobriu que havia uma nota sobre o assassinato na rua das Camélias. Só assim que Gil descobriu quem havia matado.

Era um conhecido estelionatário que estava foragido da polícia. Após aplicar centenas de golpes na praça por todo o país, Romualdo Pereira dos Santos estava bem escondido até ser assassinado em um crime de circunstâncias ainda inexplicadas. A polícia prometeu investigar. Em nota à imprensa, o delegado acreditava que a morte fora causada por uma das vítimas do 171 que havia descoberto seu paradeiro antes da polícia.

Gil foi satisfeito para o trabalho. Nunca havia verificado e carimbado documentos com tanta empolgação como naquele dia.

O dia transcorreu normalmente até que enquanto tomava o cafezinho no meio da tarde o barulho voltou e com ele a estranha voz.

-Olá Gil… Tenho outro trabalho pra você.

CONTINUA EM BREVE

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Ai segunda feira...


Segunda-feira.Que dia chato. Na boa, as segundas feiras deveriam ser modificadas porque é muito chato depois daquele fim de semana super maneiro você ter que acordar cedo pra trabalhar ou estudar, principalmente quando está chovendo. Como é o dia mundial da preguiça, a gente podia trabalhar com horário de estágio as segundas. Pegava 10h e saía as 14h com 1h de almoço. Seria perfeito as pessoas seriam mais felizes assim. A explicação racional sobre o assunto tem base no Wikipédia que seria:
"A segunda-feira, é considerada o segundo dia da semana, seguindo o domingo e precedendo a terça-feira.A palavra é originária do latim Secunda Feria, que significa "segunda feira", e de mesma acepção existe em galego (segunda feira), mirandês (segunda) e tétum (loron-segunda). Povos pagãos antigos reverenciavam seus deuses dedicando este dia ao astro Lua o que originou outras denominações, em espanhol diz-se lunes e no italiano lunedì, com o significado de Lua e dia da Lua. Outros povos reverenciavam deuses mitológicos, em inglês diz-se monday e em alemão montag, que significam dia da Lua. Na cultura popular, é considerado o dia mais "chato" da semana pois é o primeiro dia de trabalho após o fim de semana. Para a Igreja Católica, a segunda-feira é o dia para se rezar por todos os defuntos."

Mas como a gente nunca se dá por satisfeito com as explicações racionais e absurdamente lógicas achei uma outra definição que eu considero mais completa. Segundo a Desciclopédia segunda feira seria:

"Segunda-Feira, segundo os maiores estudiosos em bar, é o pior dia da semana. Começa com uma enorme dor-de-cabeça e tremendo esporro do patrão. Outra opinião formada por aqueles que coçam o saco é que a Segunda-Feira é como qualquer outro dia da semana, não fazem nada e mais nada mesmo. Otimistas dizem que a Segunda-Feira é o melhor dia da semana, porque é o dia que está mais longe da próxima Segunda-Feira."

Eu acho essa explicação muito mais coerente!
Na rede de relacionamentos Orkut encontramos várias comunidades com o título "Eu odeio segunda feira" cujo a maior delas tem 669.404 membros e em contra partida temos a maior comunidade "Eu amo segunda feira" com cerca de 2.873 membros percentens a maior comunidade relacionada ao tema. Tem um cara aqui que trabalha perto dde mim que todos os dias ele fala "Nunca mais chega sexta feira" e quando finalmente chega, ele diz "Nunca mais dá 18:00h".Eu mereço essas peças né.. então eu só tenho a desejar Uma boa segunda feira pra todos vocês meus amiguinhos leitores do bloguxo (ahahaa) e lembrem-se que Deus nos deu esse dia para aproveitarmos ao máximo como todos os outros mesmo que ele seja um tédio só.
Um beijo e um queijo para vocês.

Pontooooooooooo...
-Gospel Night como? bombou hein
-Dj Alpiste arrasou ontem no Pvni Irajá
-Finalmente acabou a palhaçada do casamendo a Sandy

Bad,bad server...

-Que isso Vascão, tá de brincadeira né?
Amigos, amo vocês. Quem tá junto ta junto.